Capítulo II - Chegando em Cananéia: Revendo os amigos e matando saudades!
Depois de seis horas de viagem seguindo pela rodovia Régis Bittencourt, cheguei a Cananéia e reencontrei minha grande amiga Jane e seu marido Nelson que também é muito querido por mim. Depois de um ano sem vê-los, o reencontro foi maravilhoso! Nos abraçamos muito e colocamos a conversa em dia, no qual fiquei sabendo das novidades.
Jane e Nelson estão de casa nova e agora criam um cão de rua chamado Nino. O mesmo era cuidado por seu Nelson quando ainda não podia criar cachorros na casa anterior. Jane ainda tenta incansavelmente ajudar os indígenas da região que muito freqüentam a sua casa em busca de ajuda como roupas, cobertores, alimentos, etc. Jane é muito conhecida na cidade e por isso sempre dá um jeito de conseguir doações do tipo para os indígenas.
Em Cananéia também reencontrei Osvaldo Silva e sua esposa Renata, que me ajudaram muito com informações sobre a cidade na visita passada. Ambos estão investindo suas forças em um empreendimento que é novidade para mim: a produção de pizzas em cone. Ao visitá-los num dia de frio intenso, fui recebida com muito chá bem quentinho e uma boa panelada de pipoca, que renderam uma boa conversa. Eles também possuem ao lado de sua casa uma pequena pousada de quatro mini-chalés que costumam alugar nas temporadas de verão e fim de ano. No quintal de sua casa, pude observar que o casal leva um estilo de vida simples e saudável: Possuem uma pequena horta e uma criação de minhocas para fertilizar terras de plantio.
Figura 1. Jane me levando para passear (1a); Visita a casa de Silva e Renatinha (Figuras 1b e 1 c – na sequência); Acampamento de verão de Silva e Renatinha (1d). Fotos: Júlio Dalponte e Rayssa Barros.
Nesta viagem também conheci outras pessoas muito legais: Mariazinha, uma jovem nativa de Cananéia, que mostrou-me um pouco mais da congregação cristã do Brasil, igreja a qual faz parte. Na vizinhança de Jane, conhecí dona Adelinda e seu Conrado, um casal de moradores que escolheram a cidade como refúgio para uma vida sossegada. Ambos moraram na grande São Paulo por muitos anos. Seu Conrado, austríaco de nascença, falou-nos sobre sua juventude e nas grandes caçadas que participou na Europa e também no Brasil. Dona Adelinda nos falou um pouco de sua vida corrida na cidade grande, vida esta que muitas vezes sente falta, pois Cananéia é uma cidade muito tranqüila. “Aqui só consegue viver bem quem gosta de sossego e tranqüilidade”. Comenta dona Adelinda, afirmando que só vive em Cananéia porque seu marido gosta da cidade. Ambos são casados há 54 anos.
Apesar de tantas novidades, a maior delas foi a visita na Ilha Comprida, lugar que eu não pude conhecer da vez passada em que estive na cidade. Não tenho palavras até hoje para descrever a paz que senti ao percorrer as lindas e desertas praias do Boqueirão Sul, área pouco habitada pelos moradores da região.
A Ilha Comprida é um município litorâneo localizado em frente a Ilha de Cananéia. Possui esse nome devido a sua característica peculiar de ter 74 km de extensão e, no máximo, 4 km de largura em alguns pontos.
Com 74 quilômetros de praias, áreas de mangues, sítios arqueológicos, matas, dunas e espécies raras de aves, esta região é considerada uma das últimas áreas remanescentes da Mata Atlântica e um dos últimos ecossistemas não poluídos do litoral brasileiro. Faz parte do Complexo Estuário Lagunar de Iguape - Paranaguá, que constitui juntamente com Cananéia um dos maiores viveiros de peixe e crustáceos do Atlântico Sul.
Figura 3. Localização da Ilha Comprida e de Cananéia. Fonte: Google Maps.
Por possuir importância ambiental, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), incluiu a Ilha Comprida como Reserva da Biosfera do Planeta. O município que tem 100% de seu território (252 quilômetros quadrados), incluído em Área de Proteção Ambiental, desenvolve ações estruturais para se transformar em Cidade Modelo do Turismo Sustentável. A Ilha Comprida é, portanto, um grande exemplo para várias cidades brasileiras (inclusive para o estado do Amapá) no que tange a sua preocupação em conservar suas riquezas naturais, valorizando-as com a prática do ecoturismo local.
Figura 4. As diversas faces da Ilha Comprida. Fotos: Rayssa Barros
No entanto, para manter essas características o trabalho não é nada fácil para a prefeitura: Há um rigoroso controle populacional por parte da mesma na construção de residências e até mesmo bares ou restaurantes no Boqueirão Sul, uma vez que grande parte da população está localizada no Boqueirão Norte, que se conecta com o Município de Iguape, fortalecendo a economia de toda região.
Infelizmente, como em todos os lugares, a Ilha Comprida sofre com a poluição de suas praias: Como está diretamente ligada ao Oceano Atlântico, acaba por receber muito lixo que se acumula nas mesmas, prejudicando o crescimento de plantas e a alimentação de animais marinhos, que muitas vezes morrem por ingerir plásticos ou cortarem-se com cacos de vidro ou pedaços de alumínio.
Por incrível que pareça a maior parte do lixo vem de outras regiões, percorrendo milhares de kilômetros pelas correntes oceânicas, sendo arremessado pelas ondas que chegam até a praia, fazendo com que a Ilha Comprida funcione como um verdadeiro escudo ou barreira natural de lixo para a Ilha de Cananéia que está localizada atrás da mesma. Em pelo menos 3 km de caminhada pela praia, foi possível observar todo tipo de lixo possível tais como restos de malhadeira, pedaços de isopor, escovas de dente, garrafas, fraldas descartáveis e até mesmo restos de equipamentos eletrônicos.
Figura 5. Lixo acumulado nas praias da Ilha Comprida: Até quando vamos continuar destruindo a natureza? Foto: Rayssa Barros.
Ver tanta sujeira na Ilha Comprida me levou a uma reflexão profunda sobre nossa enorme capacidade de destruição. É comum o ser humano achar que sua ação isolada de jogar o lixo no lugar certo não terá grande relevância. Muitas vezes nos perdemos no pensamento de que não adianta tomar uma atitude e mudar, o que nos leva a dizer frases do tipo “De que adianta eu fazer a coisa certa se o resto continua fazendo errado?”
Muitas vezes sinto-me frustrada por também pensar deste modo, mas meu otimismo sobre nossa espécie jamais deixa de existir. É por isso que vou continuar aqui firme e forte, escrevendo o que penso, difundindo pensamentos e acreditando que com minha pequena contribuição possa mudar também o pensamento dos meus leitores para que frases do tipo “Eu posso mudar o mundo com pequenas ações!” sejam mais pensadas e faladas do que a frase anterior. Espero sinceramente poder contar com sua ajuda!
O retorno desta viagem mais uma vez foi dolorido, repleto de lágrimas e saudades! Contudo, segui no ônibus pensando no quanto ainda virá pela frente... Quantos lugares e pessoas ainda irei conhecer? Quantos ensinamentos e aprendizados ainda virão? Todas essas vivências só serviram até agora para mostrar o quanto sou pequena na minha maneira de ver e valorizar as coisas que me cercam. Espero repassar isto a você que me lê!
Dedicado a todos os meus amigos de Cananéia e São Paulo. Que Deus continue iluminando seus caminhos.
Abraços a todos. Feliz 2011!
Atenciosamente,
Rayssa Amaral barros – Bióloga (até que enfim! Hehe), Fotógrafa e Guarda-parque.
domingo, 16 de janeiro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário