O Meio Ambiente levado a sério!

O Meio Ambiente levado a sério!

SAUDAÇÕES AMBIENTAIS!

Caros amigos,

Depois de alguns anos sem escrever, torno a publicar meus relatos neste blog. Muitas coisas aconteceram e hoje o blog não se trata mais de uma página contendo apenas relatos de viagens e histórias...

Com o surgimento de uma oportunidade de termos um espaço em uma estação de rádio FM, decidimos dar voz aos nossos pensamentos e idéias. Foi quando nasceu o Programa Natureza em Foco. Um programa onde buscamos semear idéias e práticas ambientalistas de modo a sensibilizar nosso ouvintes leitores (ou seriam leitores ouvintes? nem sei mais! rsrsrs.).

Com um pouco mais de um ano no ar pela Rádio São José FM - 100.5 (e pelo www.saojosefm.com.br), nosso programa recebe convidados mais do que especiais, que contribuem significativamente com o enriquecimento intelectual de nossos ouvintes, pois já abordamos temas variados que vão desde a proteção animal até reflexões sobre nossas ações no dia-a-dia, além de muito mais!

Queremos convidar você caro ouvinte (e agora leitor!) a interagir conosco em mais este ambiente de comunicação.Contamos com vocês para nos ajudarem nesta luta de fazer alguma coisa por esse nosso tão maltratado planeta! Ajudem-nos da divulgação desses pensamentos e idéias!!




sejam todos muito bem-vindos ao nosso blog!



Atenciosamente,



Rayssa Barros e Valdemir Tavares - Programa Natureza em Foco.




sexta-feira, 21 de maio de 2010

A TRISTE REALIDADE ENFRENTADA R.P.P.N. REVECOM: ONDE ESTÃO AS AUTORIDADES PARA AJUDAR?

Hoje minhas palavras estão afogadas nas lágrimas que me tomaram ao ler este e-mail:

“Olá, queridas amigas.
Agora conseguimos parar. Anteontem foi um dia terrível e o de hoje super carregado. O quati que teve a cauda amputada, automutilou-se de novo. Sangrou muito, quase morreu. Sem anestésico para sedá-lo, tentei conseguir um empréstimo com o CETAS-IBAMA. Fiquei muito triste, ainda mais triste com as notícias de lá. A Dra. Sandra tinha o anestésico e prontificou-se a doar algumas doses. Quando soube que ela havia comprado o medicamento com seu próprio dinheiro (o CETAS também está em apuros) declinei da oferta e parti para a guerra, conseguindo setenta reais de doação, com os quais consegui comprar os medicamentos (Na Casa do Criador, em Macapá. Consegui um descontinho e comprei a três drogas por R$ 67,00).

Pela manhã de ontem o quati amanheceu péssimo e sangrando pela lesão da cauda. Não pude esperar pelo Denis. Anestesiei o quati e, com a ajuda de Marilene, fiz o que devia ser feito. Foram mais de duas horas de intervenção. Agora há pouco examinei o animal. Tomou água mas está muito debilitado. Está com um cone ao redor do pescoço o que impede a automutilação. O sangramento da cauda parou. Está protegida com uma tela de polipropileno cirúrgica doada pelo Hospital de Vila Amazonas. Teremos de aguardar alguns dias para que ele se recupere e possa sofrer uma segunda intervenção. Acredito que ele irá se recuperar pois é um animal muito saudável.

Hoje o quati amanheceu um pouco melhor. Começou a se alimentar, meio forçado, mas está comendo. Está um pouco revoltado com o "baldinho" ao redor do pescoço. O fato é muito natural, afinal deixou de ver o mundo como de hábito, além do que o artefato incomoda, mas... é necessário. Ainda agora consegui arrancar a tela cirúrgica através da coçadura, mas não está sangrando. Apresentou uma discreta melhora na coloração das mucosas. Compramos sulfato ferroso que chegou ainda há pouco. Depois desta mensagem vou tentar ministrar-lhe uma dose. Ele está com uma intensa depleção de ferro devido à hemorragia. Ele está com o sistema hematopoiético a todo vapor. Mais a frente ele precisará de um exame radiológico de quadril para fazermos uma avaliação com vistas ao diagnóstico diferencial da patologia apresentada: distúrbio de comportamento com automutilação? Síndrome de compressão da cauda eqüina? Ele está sendo tratado com antibióticos, antiinflamatórios, clonazepan e muito carinho.

Tenho enviado mensagens constantes para algumas pessoas e autoridades. Estou aguardando um pronunciamento da PMS (Prefeitura Municipal de Santana) para o final do mês. O Prefeito está em Brasília. Amanha recebo uma visita de executivos da Anglo Ferrous Brazil. Fiz contatos com a Amcel solicitando ajuda. Também estive na SEMA solicitando ajuda do Secretário junto a UNAGEM (acho que o nome e este).
Ontem a tarde foi muito sobrecarregada com diversos visitantes (Santo Antônio da Pedreira), para os quais não pude transmitir tristezas. Sábado teremos duas famílias visitando a RPPN. Consegui mais cem litros de diesel doados pela SEMA.
Muito obrigado por tudo. Pelo força e apoio que vocês estão dando. Usando o velho jargão: "Unidos venceremos".

Um forte abraço.
Paulo Roberto.”


Para os que não conhecem, este é Paulo Roberto Neme de Amorim, um médico aposentado que tem dedicado sua vida em favor da natureza. Carioca naturalizado no Amapá há muitos anos e Guarda-parque por experiência de serviço e de coração, o Dr. Paulo investiu tudo o que tinha em seu grande sonho: criar a Reserva Particular do Patrimônio Natural REVECOM garantindo ao menos um pedacinho de verde para as gerações futuras que poderão contemplar a beleza deste lugar. Se ele continuar existindo é claro...


Figura I: Dr. Paulo Amorim e o amor pelos animais. Foto: Elielson Penafort.

Entretanto, no que depender das autoridades “competentes” do estado, não sobrará muitos lugares assim para contar a história: O Centro de Triagem de Animais Silvestres – CETAS/IBAMA, como o próprio Dr. Paulo descreve no e-mail passa por situações tão precárias quanto as da reserva. Isso sem contar o Parque Zoobotânico de Macapá, que há muitos anos está fechado á visitação pública e já perdeu uma quantidade considerada de animais silvestres, vítimas das precárias condições do Parque. Infelizmente a mídia não mostra este tipo de coisas. Os gestores também se mantém num constante silêncio, talvez pelo medo de falar e mostrar a realidade para a sociedade.

Contudo, na REVECOM é diferente, pois não há o que temer em mostrar o trabalho que faz e as dificuldades que vem enfrentando. A reserva funciona há 12 anos no estado e passa por uma de suas piores crises financeiras da história. Tudo por culpa da falta de compromisso das instituições governamentais que deveriam dar suporte para a manutenção desta Unidade de Conservação, assim como nas demais instituições citadas. Mas, como sempre, a grande estratégia do estado é viver da política do “faz de conta”.

A REVECOM é uma Unidade de Conservação de uso sustentável. Foi criada em 1997 com o objetivo de desenvolver atividades na área ambiental. Sua missão e contribuição com o estado amapaense é defender o desenvolvimento sustentável por meio de programas e ações participativas, com o envolvimento da comunidade, entidades parceiras e com segmentos que desenvolvam atividades na área ambiental e comercial.

Tais princípios vem sendo mantidos a "duras penas” pelo proprietário desta UC, Paulo Amorim, que incansavelmente, acreditando nos seus ideais e na boa fé das pessoas, continua seu trabalho de disseminar o patriotismo e o amor pela terra na sociedade amapaense, que há muito tempo parece ter esquecido seus valores, tendo se acomodado diante ás tantas problemáticas existentes no estado.

Atualmente a reserva mantém mais de 500 animais em cativeiro, sem contar as espécies que foram reintroduzidas nos 17 hectares de mata fechada da mesma. Conta com uma equipe atual de 11 funcionários, nos quais os mesmos fazem um esforço quase sobrenatural para manter o conforto e a qualidade de vida a esses animais, sendo muitas vezes mais do que simples funcionários, mas sim verdadeiros amigos da natureza.


Figura II: Alguns animais que estão sobre os cuidados da REVECOM. Fotos: Elielson Penafort.

Contudo, os gastos gerados para manter todo este patrimônio natural também são altos, girando em torno de R$20.000,00 mensais, que vão desde a manutenção dos logradouros, despesas com combustível, compra de materiais de limpeza e pagamento de funcionários.

A alimentação dos animais é uma despesa a parte. Para os carnívoros, há um gasto considerado na compra de carne vermelha para os felinos, peixes e crustáceos para lontras e outros animais. Hoje a reserva conta com a doação de avarias – restos de verduras, legumes e frutas que saem dos supermercados. Sabe aqueles alimentos que as pessoas não compram porque estão com uma aparência feia, amassados ou parcialmente estragados? São estes mesmo!

Pelo menos duas vezes na semana, o Dr. Paulo, juntamente com alguns funcionários saem da reserva para buscar estas avarias. Isso quando o carro não quebra ou fica sem combustível, o que já aconteceu muitas vezes e dificulta ainda mais os trabalhos dos mesmos. Ao recolher as avarias, tudo segue para uma minuciosa triagem, no qual é separado tudo o que poderá ser cozido ou servido diretamente aos animais como alimento do dia. Tudo é aproveitado, pois até mesmo os legumes, verduras e frutas estragadas vão servir de alimento para a fauna decompositora de invertebrados, como besouros, borboletas e mariposas que se reproduzem nas matas da reserva.


Figuras III, IV: Tratamento de peixe para alimentação dos animais piscívoros.
Figuras V e VI: Triagem de avarias e dispersão de legumes pela reserva aos animais decompositores. Fotos: Elielson Penafort.


Desde que foi criada em 97, a REVECOM já recebeu mais de 30.000 visitantes, que estão registradas no livro de visitas para quem duvidar. Aos visitantes é cobrado uma taxa simbólica de R$5,00 a R$10,00 (dez reais)e gratuidade para as pessoas de baixa renda. O valor do ingresso é todo revestido nas atividades da reserva e o passeio vale muito á pena. No entanto, poucos visitantes estão aparecendo e isto encarece ainda mais os recursos de manutenção da REVECOM.

Vivendo de doações por instituições privadas que quase sempre doam recursos como forma de compensação ambiental por impactos ambientais gerados á biodiversidade do estado, mineradoras como a extinta MMX, mensalmente doava um valor relativamente bom para ajudar nas despesas, firmando um termo de cooperação técnica temporário por alguns meses. Como seu prazo de obrigatoriedade nas doações cessou, além do fato da mesma ter sido vendida para a empresa Anglo Ferrous Brasil, atualmente a reserva recebe pequenas doações de alguns estabelecimentos comerciais como a Casa do Criador, Açougue Novo Milênio, Mercadinho das Peças, Supermercado Santa Lúcia, pessoas físicas, estudantes e outros. Apesar de já serem de grande ajuda para a reserva, infelizmente essas pequenas doações não são suficientes para manter a REVECOM.

Vez e outra aparecem algumas empresas que doam algum bom valor,como é o caso da empresa ECOMETALS, que desde o mês passado vem contribuindo com a reserva.Contudo,o que de fato a REVECOM precisa é de doações mensais permanentes para ter segurança e estabilidade na realização de suas atividades.

Como o próprio Dr. Paulo descreve no e-mail acima, há muitas promessas por parte de instituições municipais e estaduais e empresas como a Anglo Ferrous Brasil, mas nada garantido para agora. Com isso o desespero toma conta de todos nós que acreditamos no trabalho que esta reserva vem desenvolvendo durante esses 12 anos de existência... O que está faltando para que o estado se manifeste á respeito do assunto?

A reserva tem reconhecimento internacional, nos quais já recebeu visitantes de vários países, programas de televisão e até mesmo filmes e documentários já foram gravados na REVECOM. Com tanta notoriedade nacional e internacional, pergunto: Por que o próprio estado do Amapá não valoriza e apóia este patrimônio tão importante para o mesmo?

Hoje o sentimento que toma conta de nós é de revolta e indignação em ver o grande descaso do Amapá, uma terra tão rica em natureza, detentora de uma fauna e flora exuberantes, sendo tachado e cobiçado pelos outros estados e até mesmo outros países como o estado mais preservado do Brasil. Infelizmente esse estado, está deixando muito a desejar com seus animais, sejam domésticos ou silvestres. Ninguém parece se importar com isso.

As autoridades não estão cumprindo seu dever da forma que deveriam e a falta de ações facilita também a entrada de ONGs estrangeiras mal-intencionadas, que vem até o estado para explorar e roubar nossas florestas ou incentivam discretamente a prática da biopirataria, bioprospecção além do tráfico de animais silvestres. Isso sem contar o grande índice de caça e morte de animais para venda de suas peles, carne, olhos, genitálias e tantas outras partes para consumo, produção de acessórios e medicamentos.

Até quando vamos deixar isso tudo acontecer? Ao que parece vamos deixar que tudo se acabe para depois valorizarmos, uma vez que as pessoas só valorizam quando perdem. Mas poderá ser tarde demais, pois o Amapá depende de suas florestas e de sua biodiversidade para sobreviver. Infelizmente, no momento, poucas pessoas enxergam esta realidade e tentam investir nesta idéia. O Dr. Paulo Amorim é uma dessas pessoas, que acredita nos princípios da ecopedagogia, tenta por em prática o que diz na carta da terra e acredita que a educação ambiental deve ser disseminada para todas as idades, confiante principalmente nas crianças, pois as mesmas devem ser instigadas a possuir este amor pela terra desde pequenas, e assim deveria ser o ensino nas escolas de todo o Brasil.


Figura VII: O importante papel que a REVECOM vem exercendo no Amapá: a Educação Ambiental. Foto: Aaron Burton.

Venho pedir através deste texto que não fiquemos mais calados diante desses problemas. A REVECOM precisa de todos nós pra continuar fazendo seu trabalho. Vamos ajudar a divulgar estes problemas por aí? Neste momento, preciso de todos os amigos. Por favor, não fiquem calados perante a isto! A natureza agradece e a REVECOM também!
Ainda acredito em pessoas sérias, patriotas e que amam e valorizam a terra onde vivem!

Dedicado á REVECOM e ao Grupo GAIA de Conservação á biodiversidade, além de todas as pessoas que acreditam no Amapá como um estado modelo de preservação e patriotismo para o mundo... Falta agora as pessoas acordarem para esta realidade, arregaçarem as mangas e fazerem valer seus direitos e deveres de cidadania, sendo um desses direitos questionar e criticar racionalmente o que está errado e um dos deveres investigar e participar das decisões políticas do estado, o que na prática vem acontecendo muito pouco. Vamos acordar pessoal!

Atenciosamente,


Rayssa A. Barros – Guarda-parque brasileira,
Estudante de Biologia da UNIFAP
Ambientalista de coração! (rayssabarros.blogspot.com)
Foto acima: Estudantes de Biologia da Unifap, que tem se empenhado a ajudar nas atividades da reserva, além do Deputado Estadual Eider Pena que também se disponibilizou a lutar pela REVECOM. Vamos á luta!
PARA MAIORES INFORMAÇÕES SOBRE A RPPN REVECOM, ACESSE O SITE: www.revecom.com.br ou nos blogs: rppnrevecom.blogspot.com e babiprotegendoaamazonia.blogspot.com

quinta-feira, 20 de maio de 2010

APAS: ALGUÉM SABE PARA QUE SERVE?

Esta vem sendo uma pergunta intrigante para mim durante esses últimos meses, desde que iniciei a execução de meu trabalho de conclusão de curso na Área de Proteção Ambiental do Rio Curiaú, localizada próximo a cidade de Macapá. Com um trabalho um tanto complicado abordando um conceito antropológico sobre aspectos tradicionais, percepções locais e a influência negativa que tudo isto vem causando para o meio-ambiente, em especial para a eliminação de onças da região, começo a formular questionamentos, críticas e idéias com base em conversas e na receptividade que tenho tido pelos moradores em algumas áreas da APA.

Para início de conversa, permitam-me apresentar para vocês algumas informações sobre a minha área de estudo: A Área de Proteção Ambiental do Rio Curiaú possui uma área de 21.676 hectares e um perímetro de 47,3 Km. Localizada na cidade de Macapá, a poucos minutos do centro urbano. Cerca de 180 famílias vivem na unidade ou no seu entorno imediato em seis comunidades, denominadas Curiaú de Fora, Curiaú de Dentro, Casa grande, Curralinho, Extrema e Mocambo. Contudo, das comunidades citadas anteriormente, três delas tratam-se de quilombolas reconhecidos através do Título de Reconhecimento n.º 1/99, pelo Governo Federal, representado pela Fundação Cultural Palmares. Existem ainda duas comunidades ribeirinhas ao norte da APA, chamadas Pirativa e Pescada (DRUMMOND, 2008). Atualmente a UC abriga um dos mais belos ambientes naturais do estado, a bacia do Rio Curiaú, com grande representatividade de fauna e flora regionais, ameaçada pela pressão do crescimento urbano do município de Macapá.


Figura I: APA do Curiaú. Foto: Rayssa Barros

Uma das principais metodologias de minha pesquisa na obtenção de informações é a aplicação de questionários e entrevistas informais com os moradores das comunidades. No questionário, abordo sobre vários assuntos, sempre enfocando os hábitos, costumes e relação dos moradores com a natureza em que vivem. Atualmente encontro-me na fase de tabulação de questionários e tenho que admitir que muitas respostas tem me deixado realmente surpresa, no sentido de perceber a falta de sensibilidade que alguns moradores possuem diante ao local onde vivem. Essas respostas associadas ás coisas que tenho visto me fazem questionar o por quê da existência de APAs.

A APA do Curiaú foi criada em 28/09/1992, seguindo os preceitos de APAs estipulados pela Lei Federal nº 6902/81, o qual possui como características básicas ser geralmente “extensas, com um certo grau de ocupação humana, dotadas de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e têm como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.” (SNUC, 2000). Entretanto, a situação que observo no Curiaú está muito longe do que diz a lei.

Primeiro, o índice de caça (de subsistência principalmente) é relativamente alto. A maioria dos entrevistados afirma que tem o hábito de caçar pelo menos uma vez na semana. Tudo bem, eles podem, pois a legislação quilombola ao qual estão amparados, permite este tipo de atividade. O que me impressiona é o fato das pessoas não perceberem que se todos tiverem o mesmo hábito ou não tiverem um controle, não demorará muito até que os animais desapareçam. Isto é um problema que poderia ser amenizado ou até mesmo resolvido se houvesse mais fiscalização, monitoramento e vigilância da área por parte da Secretaria do Estado de Meio Ambiente, atual gestora desta UC.


Figura II: Preguiça-real vítima de caça predatória no Curiaú. Foto: João Silva

Alguns moradores afirmaram nas entrevistas que desde sua criação, nunca houve uma preocupação maciça por parte da SEMA em implantar medidas de suporte e fiscalização da APA. Muitos moradores se sentem prejudicados com esta falta de atenção, pois constantemente, segundo eles, sofrem perdas de roçados, roubo de animais de criação como gado e galinhas, além dos animais que aparecem mortos, os quais os mesmos insistem em botar a culpa nas onças que segundo alguns eles “tem pra mais de 10 onças no Curiaú...”. A questão das onças foi algo que chamou minha atenção para realizar este trabalho em agosto de 2008, quando foi realizado um curso de monitoramento e rastreamento de fauna silvestre no local. Durante o curso, foram encontradas diversas pegadas, não só de onças, mas de uma certa variedade de fauna.

A raiva pelas onças já é algo antigo no Curiaú, mas explodiu mesmo em 2007 quando uma onça-parda (Puma concolor) foi abatida pelos próprios moradores, sob a alegação de que estaria atacando o gado da região, além de causar pânico sobre as comunidades. Nas entrevistas dadas na época do acontecido, vários moradores disseram ter acionado as autoridades locais como Batalhão ambiental, IBAMA, SEMA, mas, segundo eles, nenhuma das instituições lhes deu resposta e suporte, então foram obrigados a agirem por conta própria. O caso virou polêmica em todo o estado do Amapá e até hoje ainda não foi completamente resolvido. Só o que foi feito foi a taxidermia do animal pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá – IEPA.

Outro problema que observei em algumas caminhadas foi o despejo de lixo ao longo da rodovia AP-70, rodovia esta que passa por dentro da APA. Em uma caminhada de quase 10 km que fiz com uma amiga, fotografamos vários pontos da estrada que estavam repletos de lixo. As pessoas que passam pela APA de carro principalmente, parecem ter o péssimo hábito de achar que estrada é lixeira e não se intimidam de jogar tudo o que é tipo de sujeira. Encontramos desde um sofá velho até galões com uma substância branca que não sei dizer do que se tratava, além de latas de cerveja, animais mortos em sacas de sarrapilheira, etc. Isto porque estamos falando de uma APA, imaginem então, o que acontece em locais que não são protegidos por lei?

O lixo é um dos fatores que contribuem bastante como combustível para o próximo problema da APA do Curiaú: as queimadas! Nos meses que vão de agosto a dezembro, período em que ocorre o verão intenso aqui no Amapá, é comum passarmos na estrada e observarmos no horizonte algumas cortinas de fumaça. Às vezes nem é preciso observar no horizonte, basta olhar no acostamento da rodovia: o fogo fica há alguns metros dos veículos que por lá trafegam. Observa-se algumas vezes a iniciativa frustrada de alguns voluntários a apagar os incêndios nas mediações de sua casa. Grande parte desses incêndios é proposital, com a intenção de limpar os campos sujos de cerrado para produção de roçados.



Figura III: Lixo jogado ao longo da Rodovia AP-70
Figura IV: Moradores tentando combater o fogo que avança sobre o cerrado. Fotos: Rayssa Barros


A expansão agrícola dentro do Curiaú é algo forte e também faz parte dos aspectos tradicionais das comunidades que lá residem. Contudo, isto causa um sério dano á natureza, pois as áreas de mata fechada estão gradativamente se tornando menores e inóspitas. As expansões agrícolas somadas ao alto índice de caça de subsistência contribuem de forma conjunta para o empobrecimento de fauna na região, em especial aos mamíferos que são animais extremamente sensíveis a esses tipos de alterações. Um renomado cientista chamado Kent H. Redford em seu artigo “A Floresta Vazia” afirma que a destruição de árvores frutíferas acarreta diretamente no empobrecimento da fauna, pois na escassez alimentar, os animais tendem a migrar para outros lugares tornando-se muitas vezes vulneráveis a caça e por fim desaparecendo do local de origem.

Esses são apenas alguns pontos observados em minhas visitas á APA do Curiaú, que aqui estou argumentando ao que vai contra a legislação brasileira quando instituiu a categoria APA. Nas entrevistas que fiz, notei que quase sempre os entrevistados tinham algum grau de parentesco, e que a maioria deles possuem famílias com mais de dois filhos, o que somando tudo provavelmente resultará numa população considerável que irá aumentar ainda mais o caos e a degradação ambiental dentro desta área, partindo da tendência de tudo continuar na mesma daqui há alguns anos. Você deve estar se perguntando: como assim? Bem, se as autoridades locais continuarem a não fazer um acompanhamento rigoroso das atividades que ocorrem dentro do Curiaú, bem como o crescimento populacional, daqui há alguns anos será totalmente inútil chamar o local de Área de Proteção Ambiental, pois simplesmente não haverá mais o que proteger. Pensem comigo: as crianças que hoje lá vivem irão crescer, constituir família, construir novas casas, fazer novos roçados, praticar a caça de subsistência (se sobrar alguma fauna pra isso) e tudo mais que seja necessário para suprir suas necessidades. Em breve o inevitável acontecerá: O Curiaú vai virar uma zona urbana, como já aconteceu com as comunidades próximas á cidade e irá se deteriorar rapidamente.

E é aqui que entra o meu questionamento: para que servem as APAs? Para retardarem o processo de degradação ambiental?
Tenho certeza que os idealizadores da criação de uma APA não a criaram com estes pensamentos, mas sim acreditando que a lei seria aplicada de forma mais rigorosa e levada a sério pelas pessoas. Por isso, vale ressaltar aqui que medidas absolutamente imediatas devem ser tomadas pelos órgãos gestores destas UC´s. Elaboro este pensamento com base na realidade que venho vivendo ao longo do meu trabalho de pesquisa, mas quantas APAs ao longo do país não passam pela mesma situação ou até piores? Quando é que o governo brasileiro vai se dar conta de que precisam investir mais em proteção, fiscalização, vigilância e sensibilização ambiental?

Claro que nada neste mundo se resolve da noite para o dia, mas é preciso que alguém dê o pontapé inicial para que providências cabíveis sejam tomadas e façam com que as APAs não sejam mera perda de tempo. Que tal começar por você caro leitor? Intensifique sua massa crítica, questione as coisas, não se acomode diante ao caos humano da psicoadaptação (segundo Augusto Cury é a adaptação conformista da mente a eventos repetitivos e a perda da capacidade de se sensibilizar com os problemas sociais).

Psicoadaptação: Este fenômeno também observei na APA do Curiaú. Percebo que os moradores sabem muito bem dos problemas que lá existem, mas pouco se interessam em procurar respostas para resolvê-los. Isso é muito negativo para eles mesmos e mais ainda para a natureza onde vivem, pois infelizmente a conservação da flora e fauna do Curiaú dependem muito mais deles do que das autoridades locais. Lembrando aqui que não estou defendendo ninguém, pois a SEMA deveria incentivar as ações comunitárias no âmbito conservacionista. O trabalho em conjunto sempre fortalecerá qualquer atividade que seja feita com dedicação!

Abraço aos leitores.

Atenciosamente,


Rayssa Amaral Barros
Guarda-parque (sem emprego) e estudante de Biologia da UNIFAP (formanda...hehe!)

terça-feira, 18 de maio de 2010

O QUE FAZ REALMENTE A DIFERENÇA...TEORIA OU PRÁTICA? VERDADES SOBRE O AMAPÁ...

Nestas últimas semanas, venho acompanhado algumas ações consideradas importantes para o Amapá no contexto sócio-ambiental. Primeiramente, estive participando do Encontro das Polícias Ambientais e Guarda-parques do Platô das Guianas, realizado nos dias 5, 6 e 7 de maio de 2010. Infelizmente só pude comparecer no evento no dia da abertura, uma vez que no dia seguinte havia sido convidada a me fazer presente em outro evento.

No evento estavam figuras importantes do estado, como a promotora do meio-ambiente, Dra. Ivana Cei, Antonio Farias, secretário executivo do governo e o secretário do meio-ambiente, Paulo Vagner, além de outras figuras.

Nas poucas horas em que acompanhei o evento, assisti a uma apresentação muito interessante e ao mesmo tempo preocupante, ministrada pelo Diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro, Antônio Carlos Hummel. Na apresentação abordando sobre a perspectiva do uso sustentável dos recursos florestais da Amazônia, Hummel expôs em números o tamanho da nossa riqueza e também dos nossos problemas.

Segundo Hummel, o Brasil possui cerca de 71% de seu território constituído por floresta amazônica, 14% de cerrado, 10% compõem o pantanal, 5% constitui-se de caatinga, 5% de mata atlântica e o restante constituem-se dos pampas sulinos. De todos esses ecossistemas, o governo federal possui cerca de 20 milhões de hectares mantidos sobre alguma categoria de Unidade de Conservação pelo Brasil afora. Hummel também abordou sobre as políticas públicas executadas nos últimos 10 anos pelo serviço florestal brasileiro e que o Brasil sofreu uma redução na taxa de desmatamento de cerca de 40%. Também não se esqueceu de falar das precariedades enfrentadas pelo país no que diz respeito aos fatores de fiscalização e proteção da biodiversidade.


Figura I: Antônio Carlos Hummel expondo em números estatísticos as ações e os problemas enfrentados pelo Serviço Florestal Brasileiro. Foto: Rayssa Barros

Encerrando sua apresentação, Hummel falou dos planos futuros que possam assegurar cada vez mais a proteção de nossas florestas, tais como melhorias no setor madeireiro, estimulando a produção de madeira não impactada e criando-se estratégias para que os financiadores deste setor não temam em investir recursos em uma “floresta em pé”. O diretor do serviço florestal brasileiro afirma que mais do que proteção ás nossas florestas, medidas que garantam a sustentabilidade de um povo a partir da própria natureza devem ser pensadas, pois só assim será possível que população e instituições voltadas á proteção da natureza trabalhem em conjunto, intensificando a massa que levanta a mesma bandeira.

Ao final do encontro, foi elaborada uma carta do platô das Guianas, que foi entregue ás mãos do governador do estado do Amapá, Pedro Paulo Dias de Carvalho. Entre os principais pontos da carta, estão: desmatamentos nos países envolvidos no acordo, conservação ambiental nas áreas protegidas, combate à atividade de garimpo ilegal, prostituição, tráfico de drogas, armas, animais da fauna amazônica, pesca ilegal, corte e transporte ilegal de madeiras, exploração de palmito e fibras naturais como cipó titica (BEZERRA, 2010). O ponto principal do acordo contido na carta é a formação de parceria entre as Polícias Ambientais do Platô das Guianas e da região amazônica para a realização de forças tarefas e ações conjuntas voltadas à proteção e à salvaguarda do meio ambiente (BEZERRA, 2010).

Quanto Guarda-parques, esperamos sinceramente que tudo o mais que foi exposto nesta carta, principalmente no que diz respeito ás parcerias entre as polícias ambientais inclua também a mais nova classe profissional do estado do Amapá, que até o momento está apenas no papel. Vamos ver se na prática, as coisas acontecem de fato, senão... de que adianta fazer tantos eventos e documentos quando o que realmente faz a diferença são as ações reais?


Figura II: Publicação da lei que cria a profissão Guarda-parque no Amapá. Será que vamos ficar só no papel? Foto: Rayssa Barros.

No dia 06/05, participei de uma audiência pública na Assembléia legislativa, no qual a Associação de Guarda-parques teve seu assento garantido em umas das bancadas da plenária da Assembléia. No evento havia também muitas autoridades importantes do estado, assim como um deputado da bancada federal, convidado para escutar as propostas e levá-las até Brasília.

A audiência teve como objetivo tratar de questões referentes ao Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no que diz respeito a apresentação de propostas para o desenvolvimento sócio-econômico dos seis municípios que estão ao entorno do Parque e que de certo modo ficaram “engessados” com a criação do mesmo.
Já não é de hoje que esta conversa acontece. Desde que o parque foi criado no estado em 22 de agosto de 2002, o Amapá vem discutindo as melhores maneiras de se desenvolver, mesmo com quase 74% de seu território mantido sobre proteção pelo SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação). Somente o parque toma 26% do território amapaense. Durante a audiência algumas autoridades locais citaram estes fatos, e na fala do secretário executivo do governo do estado, Antônio Farias, ficou claro que o governo do Amapá nunca foi contra a criação do parque, no entanto, sempre questionaram a maneira como ele foi criado, a partir de uma “canetada” do então presidente da república naquela época, Fernando Henrique Cardoso, que sem nem ao menos discutir a criação do mesmo com a sociedade amapaense implantou tal feito.

Antônio farias também argumentou que desde aquela época até os dias atuais, o governo defende uma rigorosidade na execução de políticas públicas de compensações ambientais, de modo que as mesmas sejam melhor elaboradas e executadas, para que a sociedade amapaense não sofra os impactos econômicos causados com a criação do PARNA do Tumucumaque. Infelizmente até os dias atuais sofremos diretamente os efeitos de “engessamento” econômico no estado inteiro. Basta visitar os municípios que estão localizados ao entorno do parque para saber como as pessoas vem sobrevivendo nesses locais. Não bastasse isso, a posição geográfica do Amapá também não coopera com o desenvolvimento sócio-econômico do estado da mesma maneira que vem ocorrendo em outras capitais. As dificuldades são enormes e sabemos disso, contudo, o Amapá possui seus tesouros em forma de grandes e ricos tapetes verdes de florestas intactas. Basta apenas que as autoridades “competentes” saibam tirar o melhor proveito disso, coisa que ainda não aconteceu...

Na audiência também houve uma apresentação da Secretaria do Estado do Meio Ambiente do Amapá – SEMA, no qual o secretário do meio ambiente falou sobre as “ações” que a SEMA vem desenvolvendo nas UC´s (UC´s=Unidades de Conservação) gerenciadas por ela. Mais uma vez a falácia foi demais e as ações estavam apenas nos slides. Falo por experiência própria pelo trabalho que venho desenvolvendo na Área de Proteção Ambiental do Rio Curiaú, no qual faço uma abordagem sobre os aspectos tradicionais e sua relação com os conflitos entre gente e onças que vem ocorrendo naquela comunidade. A falácia está em um slide que muito chamou minha atenção quando foi apresentado que a SEMA vem desenvolvendo manejo de onças no Curiaú. De fato, as únicas atividades envolvendo onças nesta UC estão sendo desenvolvidas por duas pesquisadoras, sendo que a SEMA está dando apenas suporte logístico como fornecimento de veículos, embarcações e algumas informações. Mas manejo de onças mesmo... Nunca! Aliás, isso nem passa pelas nossas cabeças. Não condiz com os trabalhos que vem sendo executados, portanto...Falácia!

Houve ainda a apresentação sobre as ações que vem sendo desenvolvidas pelo instituto Chico Mendes de Proteção á Biodiversidade – ICMBIO. Christoph Jaster, chefe do PARNA do Tumucumaque fez uma breve contextualização sobre a criação do parque, expondo as riquezas, problemas e dificuldades enfrentados para que o parque se mantenha íntegro e protegido, uma vez que estamos falando de uma UC fronteiriça com outros dois países: Guiana Francesa e Suriname. E mais uma vez, retomando o problema da “canetada” dada por FHC (Fernando Henrique Cardoso), o ICMBIO tenta até hoje contornar um problema que poderia ter sido evitado na época da criação do Tumucumaque: A Vila Brasil.

Segundo o SNUC, um Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que diz a lei. No caso do PARNA do Tumucumaque, além de terras indígenas, existe uma vila dentro do mesmo. A Vila Brasil já existia antes da criação do parque. Há muitos anos, a mesma mantém relações muito fortes com a comunidade de Camopí, situada do outro lado da margem do rio, em terras da Guiana Francesa. Os moradores de Vila Brasil dependem do comércio e da prestação de serviços com Camopi. Realocá-los, como define a legislação, seria o rompimento de um elo cristalizado ao longo da história (RUSSO, 2010). Nesse contexto, Christoph expôs que os moradores da Vila Brasil terão direito de permanência na área, desde que sigam as normas do parque. No entanto, me veio uma dúvida imediata: Como é possível que os moradores da Vila Brasil possam possuir sustentabilidade sem, no entanto, ferir as normas do parque?


Figura III. O Amapá e suas UC´s. O que fazer para proteger tanta terra, sem no entanto impedir o desenvolvimento sócio econômico do estado? O ecoturismo seria uma solução?Fonte: LAGEO-ZEE/IEPA, 2007.

Christoph falou sobre um termo de compromisso que está sendo trabalhado para que os moradores da Vila Brasil possam realizar suas atividades sustentáveis de modo a não prejudicar ou impactar o parque. Consultando o blog do Parque do Tumucumaque, notei que os gestores também chegaram ao mesmo questionamento, argumentando que a Vila Brasil foi vista com bons olhos, no sentido de atuar estrategicamente para futuras ações relacionadas ao Turismo, pois devido ao perfil de seus moradores, vislumbra-se a oportunidade de diversos negócios a serem estimulados e associados ao uso público da unidade. Vamos torcer para que na prática isso aconteça de fato. E mais uma vez puxo a sardinha para o profissional Guarda-parque, que poderia estar diretamente envolvido nessas atividades. Será que o governo federal tem interesse neste profissional?

As apresentações encerraram-se com as propostas de ações sustentáveis que podem estar sendo aplicadas diretamente aos seis municípios que fazem limites com o parque. Tais propostas foram apresentadas pelo deputado estadual Manoel Mandi, que dado um segundo momento, explicou-me um pouco mais sobre o real sentido dessa audiência pública. Há alguns anos atrás, foi formada uma comissão do Parque do Tumucumaque, que tinha como propósito final se tornar um GT – Grupo de Trabalho, que seria criado a partir do governo federal.

Segundo Mandi, um grupo de trabalho é um instrumento legal criado pelo presidente da república, para tomar decisões referentes ao local, que neste caso seria o próprio parque. Naquela época (em 2003), foram feitas várias audiências públicas nos municípios envolvidos, com o objetivo de elaborar propostas e estratégias de desenvolvimento para essas regiões e proteção ao parque. Entretanto, não houveram avanços nas negociações, resultando na não criação do GT pelo governo federal. Portanto, esta audiência pública seria o início de uma nova tentativa de fazer com que o governo federal dê uma “canetada” inteligente e crie o GT de uma vez por todas. Para isso, será necessário que tudo recomece praticamente do Zero.

Não posso deixar de comentar que a Assembléia Legislativa estava lotada para esta audiência. O público compareceu em peso para escutar o que as autoridades tinham para dizer. Infelizmente a fala do público se restringe a três minutos, comparada com a fala das autoridades que muitas vezes “falam, falam e acabam não dizendo nada”.


Figuras IV e V. A sociedade amapaense marcou presença na audiência pública. Interesses próprios ou patriotismo pela terra?

Eventos como este me levam a reflexões sobre teorias e práticas, o qual muitas vezes perco a paciência com tanta “rasgação de seda”. Entendo a boa intenção de algumas pessoas ali envolvidas, mas como sempre a maioria delas não está ali pelos interesses do parque do Tumucumaque e sim por interesses particulares. Admiro muito a legislação brasileira e as iniciativas dos poderes legislativo, executivo e judiciário, mas insisto em dizer que para que as coisas aconteçam na prática é necessário que a consciência de cada pessoa esteja em alta.

Onde está o patriotismo brasileiro? Será que nossas vidas se resumem apenas a trabalhar e ganhar dinheiro? Será que vamos conseguir viver em uma terra inóspita e em péssimas condições de vida como falta de ar puro, falta de água potável e no meio de tanto lixo e dejetos? Bem, esta realidade já começa a ser praticada. Apesar de não percebermos, mas diariamente isto ganha corpo em nossas ações, sendo o comodismo a mais prejudicial de todas elas. Aceitamos tudo o que as pessoas dizem com facilidade, sem nos preocuparmos em investigarmos a fundo sobre o que é verdade e o que é mentira, usando a desculpa de sempre: “não tenho tempo pra isso!”

É por isso que no Amapá, assim como em outros estados há muitas belas notícias sobre o meio-ambiente sendo divulgadas na mídia, pois os eventos acontecem, as autoridades comparecem, falam bonito, iludem as pessoas leigas e acomodadas que acreditam estar tudo bem e seguimos assim nessa política de imagens e falácia...

Ressalto que estas palavras não servem para descrever a todos, pois como disse anteriormente, existem sim pessoas sérias e comprometidas com os ideais de lutar e proteger esta terra tão incrível que temos o privilégio de morar. Mas como cidadã brasileira, espero que as autoridades façam seu dever de casa de forma completa: na teoria e na prática. E que a sociedade desperte este sentimento de patriotismo ou brasilidade, que luta por seus direitos bravamente, cobra ações reais dos governantes que elegeram; que cumpram seus deveres de cidadania e tenham mais humanidade com seus semelhantes. É apenas mais um breve desabafo, incrementado de informações de um estado que já foi absurdamente chamado de terra da imaginação em outros carnavais por um jornalistazinho de meia pataca... Que tenhamos orgulho de ser brasileiros e botemos isso em prática!

Dedicado aos amigos que acreditam nos seus ideais e lutam pela terra onde vivem.

Atenciosamente,


Rayssa Amaral Barros – Guarda-parque brasileira (ainda desempregada, mas com esperanças), estudante de Biologia da Universidade Federal do Amapá (To quase lá! Formatura a vista....Hehe!) e fotógrafa (nas horas vagas! Risos.)

Material consultado:

BEZERRA, E. Governador recebe carta do Platô das Guianas. Governo do Estado do Amapá. Publicado no dia 07/05/2010. Acesso no dia 11/05/2010. Disponível no endereço: http://www4.ap.gov.br/jsp/noticias/news.jsp?ref=9766&dtDay=2010-05-07

RUSSO, P.R. PNMT e Vila Brasil Iniciam Construção de Termo de Compromisso. Blog Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. Publicado em 14/02/2010. Acesso em 11/05/2010. Disponível no endereço: http://montanhasdotumucumaque.blogspot.com/2010/02/vila-brasil-oiapoqueap-parque-nacional.html

SNUC – Sistema Nacional das Unidades de Conservação. Disponível no endereço: www.icmbio.gov.br/sisbio/legislacao.php?id_arq=49

MAIS UMA DATA PARA FICAR PARA A HISTÓRIA DA ASSOCIAÇÃO DE GUARDA-PARQUES DO AMAPÁ - AGPA...

Caros colegas guarda-parques!
Mais uma vez, seguindo a tradição de sempre mantê-los informados sobre todos os passos que a Associação de Guarda-parques vem dando em favor da natureza, venho informar, em nome de todos os colegas que participaram direta ou indiretamente para chegarmos onde chegamos, que hoje, dia 14 de abril de 2010, foi sancionada pelo Governador do estado do Amapá a lei que cria a profissão de Guarda-parque no estado.
A lei foi publicada no diário oficial que circula na cidade e comemorada por nós com muita felicidade por termos conquistado juntos essa vitória... Aliás... Que vitória!

Se me lembro bem, esta luta foi oficialmente travada no dia 22 de novembro de 2008, quando fundamos a AGPA. A partir de então, seguimos com dificuldades, enfrentamos opiniões contrárias, pessoas que tentaram por várias vezes nos fazer desistir, pessoas que desistiram deste sonho por motivos que não sabemos. Tudo conspirou de certa maneira para que todos nós que acreditávamos nesse sonho entrássemos em um momento de desânimo...

Desde 2008 estávamos na batalha para que isso acontecesse... AGPA se reúne para falar pela primeira vez com o Governador do estado naquela época, senhor Waldez Góes. Foto: Elielson Penafort. Março/2008.

No entanto, não podemos deixar de lembrar de todas as pessoas que sempre nos deram forças para continuarmos firmes e fortes em nossa luta, que sempre incentivaram, ofereceram um pouco do seu precioso tempo para nos escutar e nos orientar de tudo o que deveríamos fazer para fazer este sonho se tornar realidade. A essas pessoas que, com toda a certeza sabem que estamos nos direcionando a elas, o nosso muito obrigado! O que seria da AGPA sem amigos? Podemos não ter muita coisa, podemos ser leigos, bobos, rudimentares, ignorantes para alguns, o que for... Mas se temos amigos que acreditam e confiam em nossa capacidade, temos tudo! Por muitas vezes a falta de tempo adiou muitos de nossos sonhos, mas ao fim das contas estamos aqui hoje para dizer: Conseguimos dar o primeiro e mais importante passo... A implantação desta profissão no Amapá! Esta vitória é nossa e queremos partilhá-la com todos vocês caros amigos, que sempre nos mandaram boas vibrações... Obrigada de coração!

Bem, mas e agora, o que vai acontecer? Esta é uma pergunta que ainda está sem uma resposta concreta. A princípio, vamos lutar para que haja contrato administrativo para os colegas que já participaram dos cursos. Contudo, infelizmente, agora dependemos mais do governo do estado do que nunca. Vamos ver o que acontece... Mas vamos por partes... Hoje é dia de comemorar!

Gostaria de dedicar este texto a todos os meus inestimáveis amigos que lutaram sempre para que este sonho se realizasse: Anselmo Costa (grande parte do mérito desta conquista é dele, pois jamais deixou de acreditar neste sonho, sendo muitas vezes o grande incentivador de todos nós para nos mantermos firmes e acreditar que isso seria possível!),Maria da Solidade, Ailton Chagas, Silvano, seu Lailson, Admilson, Paulo Amorim e tantos outros que sempre ajudaram a AGPA a se manter firme e forte... Amizade pra mim é isso: É sempre acreditar que tudo vai dar certo e ajudar de uma maneira ou de outra... “É pau pra toda obra!”. Também deixo aqui registrado um agradecimento especial de toda a diretoria da AGPA ao deputado estadual Manoel Mandi, que deu luz á nossa caminhada e fez com que conquistássemos juntos essa vitória.

E vamos seguir na luta, sempre contando com todos que nos desejam o bem e tentando mudar aqueles que nos desejam algo de mal!

Um grande abraço a todos os leitores!
Atenciosamente,

Rayssa Barros – Vice-presidente da AGPA
Guarda-parque brasileira, fotógrafa e quase bióloga (hehe.....quase! mas to chegando lá!).

UMA DATA PARA SER LEMBRADA COM MUITO ORGULHO E FELICIDADE!

Hoje foi mais um dia que entrou para a história da Associação de
Guarda-parques do Amapá. É com muita felicidade que comunico a todos os
amigos que se interessam pelas nossas atividades, que mesmo sem nunca ter
nos conhecido pessoalmente, mas que sempre nos apóiam e nos dão força
para continuar a lutar, que conseguimos dar o primeiro grande passo para a
existência da profissão Guarda-parque no estado do Amapá. Hoje (dia
15/03/10), na Assembléia Legislativa, diante a vários deputados estaduais, foi
aprovado o projeto de lei de caráter autorizativo, que cria as profissões de
Guarda-Parque e Guarda-Florestal no estado do Amapá. No entanto, ainda
faltam dois grandes passos para a concretização deste sonho: A aprovação do
projeto de lei pelo Governador Estadual, e a publicação deste no diário oficial,
para que realmente passe a se tornar uma lei.

O estado do Amapá tem destaque e notoriedade hoje por todo o Brasil
e em outros países por ser considerado “O estado mais preservado do Brasil”,
contudo vem o nosso grande questionamento: Será que também é o mais
protegido? A legislação brasileira é uma das mais belas no que diz respeito ao
meio-ambiente, mas na prática o negócio é mais em baixo... Só quem
realmente vai pro mato e sente os problemas na pele é que sabe o que se
passa de verdade: Unidades de Conservação com infra-estrutura precárias
para receber visitantes, sem realizar atividades de vigilância, monitoramento e
desenvolver o ecoturismo, uma das grandes vertentes que poderiam gerar
renda local e beneficiar as UC´s e as comunidades próximas, mas que
infelizmente nosso governo não vem investindo como deveria nessas ações.

Existem Guarda-parques de coração, mas ao conseguirem um
contrato para trabalhar em áreas protegidas (em sua maioria as de proteção
federal), essas pessoas que realmente se dedicam á natureza trabalham com
desvio de função: São os chamados vigilantes patrimoniais, brigadistas, ou
mateiros, entre outros cargos. Grande prova disso é o próprio presidente da
AGPA, senhor Anselmo Costa e um dos conselheiros fiscais da AGPA, senhor
Ailton Chagas estarem trabalhando atualmente na Estação Ecológica Maracá
Jipióca como Brigadistas. Ambos relatam que adoram trabalhar naquela ilha,
pois estão cercados por animais selvagens e pela natureza e se satisfazem
muito fazendo o que gostam, contudo o salário que ganham é relativamente
pequeno, se comparado ás despesas que ambos gastam para trabalhar: No
cargo que exercem, necessitam pagar as passagens de ônibus para chegar até
o município de Amapá, de onde finalmente pegam a embarcação que irá levalos
até a ilha. Além disso, também gastam com a alimentação, reduzindo ainda
mais o valor mensal que recebem pelo seu trabalho.




Figuras I e II: Guardas-parques Anselmo Costa e Ailton Chagas em
treinamento. Na prática tudo é mais complicado. Fotos: Aaron Burton/2008

É lá também que trabalham outros guarda-parques como o seu Lailson
Ferreira e seu José Valdenir, ambos como vigilantes patrimoniais. Todos os
citados acima são grandes amigos e me descrevem que apesar de todas as
dificuldades e necessidades enfrentadas pelo dia-a-dia na ilha de Maracá
Jipióca, gostam muito de estar naquele lugar fazendo o que fazem: manter a
ilha livre de invasores, caçadores e outros problemas, como por exemplo, a
pesca predatória, muito comum em todo o litoral do estado. Este é apenas um
de tantos exemplos que eu poderia citar neste texto, para mostrar que apesar
de todas as dificuldades, tem muita gente que acredita neste sonho, de um dia
as autoridades locais e federais olharem com um pouco mais de carinho e
responsabilidade para todas essas áreas que eles chamam de “protegidas”,
deixando a falácia de lado, valorizando, respeitando e reconhecendo de uma
vez por todas a existência das pessoas que lá trabalham de coração, e por fim
investindo mais em proteção na exuberante natureza que o Brasil ainda possui.

O feito de hoje na Assembléia legislativa fez alguns dos colegas
derramarem lágrimas emocionadas ao ouvir que o projeto de lei foi aprovado
por unanimidade, apesar de ser muito criticado por partidos da oposição. E não
com a intenção de bajular, ou fazer propaganda política, mas de reconhecer e
agradecer, deixo aqui meus sinceros agradecimentos e votos de felicidade e
sucesso ao Deputado Estadual Manoel Mandi, membro do partido Verde, que
levou nosso sonho para frente e está conosco nesta empreitada, afirmando
para todos nós logo após a audiência que “A luta de vocês (os guarda-parques)
começa realmente agora perante ao governo do estado, para fazer valer todo o
esforço que vocês fizeram para serem ouvidos e aqui estarem!” Ele tem
razão... É apenas o início de uma grande batalha que oficialmente começa a
partir de agora!

Em nome da AGPA, no entanto, gostaria de agradecer não somente
ao deputado, mas a todos vocês, grandes amigos Guarda-parques, Francisco
Semedo, Daniel paz Barreto, João Correia, Tegan Burton, Antonio Belmonte,
Franccesc Riba, Daniel Dudus, Ernesto Gamarra, Edwin González, Bibiana
Carolina e tantos outros que não me recordo o nome, que nos inspiram e nos
apóiam nesta grande luta que está apenas começando, mas o qual teremos
muito gosto e satisfação de compartilhar os louros da vitória com todos vocês!
Muito obrigada pelo seu apoio! Sintam-se abraçados ao lerem este texto!

Atenciosamente,


Rayssa Amaral Barros – Guarda-parque brasileira (ainda
desempregada, mas feliz... hehe!) e estudante de Biologia da
Universidade Federal do Amapá.

VIVENDO E APRENDENDO... O QUE A UNIFAP ME TROUXE?

"Já são 5 anos estudando Biologia na Universidade Federal do Amapá. Muito mais do que isso porém, estudar na UNIFAP me trouxe maturidade e experiências incríveis e únicas, a começar pelo fato de que grande parte das coisas que aprendi foram fora das paredes da sala de aula e até mesmo da universidade. Mas tenho que reconhecer o papel importante desta instituição em minha vida profissional, pois através da impaciência e intolerância de muitos professores, colegas de turma e mesmo de alguns funcionários eu também soube tirar boas lições, como por exemplo, a ser o oposto do que eles me mostraram ser.

No entanto, nem tudo foi só guerra e houveram também os grandes amigos que apareceram com o passar dos anos, sem contar com a ajuda que recebi de alguns professores que foram marcantes. Estudar na UNIFAP me ensinou a ter um comportamento mais ético e maduro e me deu um suporte ainda maior para ousar na escrita, uma de minhas grandes paixões desde os tempos da escola...

Durante todo este tempo em que já deveria ter me formado, posso dizer que não me arrependo de nada do que fiz, como por exemplo, das ausências na sala de aula, nas disciplinas que reprovei, chegando ao ponto de dever 16 matérias... Confesso que pensei por várias vezes em desistir, pois a vida universitária não é só estudar como as pessoas imaginam... Temos que comer, beber e pagar despesas, e isso requer esforço dobrado para não perder o pique nos estudos, sem contar os sonhos e ideais que muitas vezes acabam sendo deixados de lado em virtude das necessidades básicas.
Ser estudante é um grande desafio. Muito mais desafiante porém, é não perdermos a essência do que queremos para nosso futuro, e isso, eu sempre batalhei muito para não perder jamais. É por isso que mais uma vez reforço: não me arrependo de nada...

Foi através das reprovações nas disciplinas que conhecí nestes 5 anos uma variedade de lugares e pessoas que jamais pensei que conheceria... foi através dessas pessoas que aprendi o real sentido da palavra amizade e solidariedade... Isso é algo impagável que jamais aprenderia numa sala de aula. Só na graduação consegui pisar em 6 estados brasileiros sem nenhum centavo no bolso...

No Rio de Janeiro conhecí a parte nobre e a parte "pobre" da cidade, mas em ambas as partes conhecí gente muito hospitaleira e amiga que me ensinaram muito. Em recife me encantei com a beleza do Oceano Atlântico e com a paixão de pessoas que assim como eu fazem o que podem pelos animais. No Mato Grosso, sensibilizei-me ao ver tantos fragmentos de mata, restos mortais do que em outrora havia sido uma enorme floresta, mas um estado detentor de uma fauna lindíssima, a começar por ter sido lá a primeira vez que ví de perto uma capivara e um tatú.

Em São Paulo, me deslumbrei e me perdi na beleza da cidade grande, sendo a primeira vez que andei no metrô, e em Cananéia, cidade interiorana, encontrei a paz e o conforto estampado no carinho dos amigos que lá deixei.

E o que dizer de Belém? minha terra mãe e querida, lugar onde nasci. Mágica e bela e infelizmente violenta! Mas é lá que muitas vezes me refugio quando posso e através da cidade consegui alguem que me deu carona até o Maranhão... Enfim.... tantos foram os lugares e pessoas que já passaram e marcaram a minha vida nestes 24 anos de idade e 5 anos de UNIFAP... Só o que eu tenho a dizer é um MUITO OBRIGADA bem grande ao meu grande Deus que permitiu que tudo isso fosse possível, e tenho a certeza....tô só começando!"

Mosaico de 5 anos de graduação... Amigos que fiz pelas minhas andanças pelo Brasil e que me trouxeram coisas boas como alegria, felicidades, conhecimento e humanidade... Como estudante da UNIFAP já explorei muitos lugares... Mas nada disso eu aprendi dentro de uma sala de aula... Valeu cada "matada de aula"...hehe!

dedicado a todos os amigos que fiz e estão nas fotos deste texto ou não:do RJ: Nanny e Ras; PE: Amigos da WSPA; MT: Marcos Olsen, Turma de Bio-UNEMAT, Júlio Dalponte; SP: Jane e Nelson, Cida e Alemão, Alex, Silva e Renata; PA: Paulo Villas-Bôas, Amigos da ASCEPA, Carlos Silva...........além de todos os meus amigos do Amapá e os meus familiares que me aturam incansavelmente nesta luta para me formar! Obrigada de Coração!!
Rá.