O Meio Ambiente levado a sério!

O Meio Ambiente levado a sério!

SAUDAÇÕES AMBIENTAIS!

Caros amigos,

Depois de alguns anos sem escrever, torno a publicar meus relatos neste blog. Muitas coisas aconteceram e hoje o blog não se trata mais de uma página contendo apenas relatos de viagens e histórias...

Com o surgimento de uma oportunidade de termos um espaço em uma estação de rádio FM, decidimos dar voz aos nossos pensamentos e idéias. Foi quando nasceu o Programa Natureza em Foco. Um programa onde buscamos semear idéias e práticas ambientalistas de modo a sensibilizar nosso ouvintes leitores (ou seriam leitores ouvintes? nem sei mais! rsrsrs.).

Com um pouco mais de um ano no ar pela Rádio São José FM - 100.5 (e pelo www.saojosefm.com.br), nosso programa recebe convidados mais do que especiais, que contribuem significativamente com o enriquecimento intelectual de nossos ouvintes, pois já abordamos temas variados que vão desde a proteção animal até reflexões sobre nossas ações no dia-a-dia, além de muito mais!

Queremos convidar você caro ouvinte (e agora leitor!) a interagir conosco em mais este ambiente de comunicação.Contamos com vocês para nos ajudarem nesta luta de fazer alguma coisa por esse nosso tão maltratado planeta! Ajudem-nos da divulgação desses pensamentos e idéias!!




sejam todos muito bem-vindos ao nosso blog!



Atenciosamente,



Rayssa Barros e Valdemir Tavares - Programa Natureza em Foco.




quinta-feira, 20 de maio de 2010

APAS: ALGUÉM SABE PARA QUE SERVE?

Esta vem sendo uma pergunta intrigante para mim durante esses últimos meses, desde que iniciei a execução de meu trabalho de conclusão de curso na Área de Proteção Ambiental do Rio Curiaú, localizada próximo a cidade de Macapá. Com um trabalho um tanto complicado abordando um conceito antropológico sobre aspectos tradicionais, percepções locais e a influência negativa que tudo isto vem causando para o meio-ambiente, em especial para a eliminação de onças da região, começo a formular questionamentos, críticas e idéias com base em conversas e na receptividade que tenho tido pelos moradores em algumas áreas da APA.

Para início de conversa, permitam-me apresentar para vocês algumas informações sobre a minha área de estudo: A Área de Proteção Ambiental do Rio Curiaú possui uma área de 21.676 hectares e um perímetro de 47,3 Km. Localizada na cidade de Macapá, a poucos minutos do centro urbano. Cerca de 180 famílias vivem na unidade ou no seu entorno imediato em seis comunidades, denominadas Curiaú de Fora, Curiaú de Dentro, Casa grande, Curralinho, Extrema e Mocambo. Contudo, das comunidades citadas anteriormente, três delas tratam-se de quilombolas reconhecidos através do Título de Reconhecimento n.º 1/99, pelo Governo Federal, representado pela Fundação Cultural Palmares. Existem ainda duas comunidades ribeirinhas ao norte da APA, chamadas Pirativa e Pescada (DRUMMOND, 2008). Atualmente a UC abriga um dos mais belos ambientes naturais do estado, a bacia do Rio Curiaú, com grande representatividade de fauna e flora regionais, ameaçada pela pressão do crescimento urbano do município de Macapá.


Figura I: APA do Curiaú. Foto: Rayssa Barros

Uma das principais metodologias de minha pesquisa na obtenção de informações é a aplicação de questionários e entrevistas informais com os moradores das comunidades. No questionário, abordo sobre vários assuntos, sempre enfocando os hábitos, costumes e relação dos moradores com a natureza em que vivem. Atualmente encontro-me na fase de tabulação de questionários e tenho que admitir que muitas respostas tem me deixado realmente surpresa, no sentido de perceber a falta de sensibilidade que alguns moradores possuem diante ao local onde vivem. Essas respostas associadas ás coisas que tenho visto me fazem questionar o por quê da existência de APAs.

A APA do Curiaú foi criada em 28/09/1992, seguindo os preceitos de APAs estipulados pela Lei Federal nº 6902/81, o qual possui como características básicas ser geralmente “extensas, com um certo grau de ocupação humana, dotadas de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e têm como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.” (SNUC, 2000). Entretanto, a situação que observo no Curiaú está muito longe do que diz a lei.

Primeiro, o índice de caça (de subsistência principalmente) é relativamente alto. A maioria dos entrevistados afirma que tem o hábito de caçar pelo menos uma vez na semana. Tudo bem, eles podem, pois a legislação quilombola ao qual estão amparados, permite este tipo de atividade. O que me impressiona é o fato das pessoas não perceberem que se todos tiverem o mesmo hábito ou não tiverem um controle, não demorará muito até que os animais desapareçam. Isto é um problema que poderia ser amenizado ou até mesmo resolvido se houvesse mais fiscalização, monitoramento e vigilância da área por parte da Secretaria do Estado de Meio Ambiente, atual gestora desta UC.


Figura II: Preguiça-real vítima de caça predatória no Curiaú. Foto: João Silva

Alguns moradores afirmaram nas entrevistas que desde sua criação, nunca houve uma preocupação maciça por parte da SEMA em implantar medidas de suporte e fiscalização da APA. Muitos moradores se sentem prejudicados com esta falta de atenção, pois constantemente, segundo eles, sofrem perdas de roçados, roubo de animais de criação como gado e galinhas, além dos animais que aparecem mortos, os quais os mesmos insistem em botar a culpa nas onças que segundo alguns eles “tem pra mais de 10 onças no Curiaú...”. A questão das onças foi algo que chamou minha atenção para realizar este trabalho em agosto de 2008, quando foi realizado um curso de monitoramento e rastreamento de fauna silvestre no local. Durante o curso, foram encontradas diversas pegadas, não só de onças, mas de uma certa variedade de fauna.

A raiva pelas onças já é algo antigo no Curiaú, mas explodiu mesmo em 2007 quando uma onça-parda (Puma concolor) foi abatida pelos próprios moradores, sob a alegação de que estaria atacando o gado da região, além de causar pânico sobre as comunidades. Nas entrevistas dadas na época do acontecido, vários moradores disseram ter acionado as autoridades locais como Batalhão ambiental, IBAMA, SEMA, mas, segundo eles, nenhuma das instituições lhes deu resposta e suporte, então foram obrigados a agirem por conta própria. O caso virou polêmica em todo o estado do Amapá e até hoje ainda não foi completamente resolvido. Só o que foi feito foi a taxidermia do animal pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá – IEPA.

Outro problema que observei em algumas caminhadas foi o despejo de lixo ao longo da rodovia AP-70, rodovia esta que passa por dentro da APA. Em uma caminhada de quase 10 km que fiz com uma amiga, fotografamos vários pontos da estrada que estavam repletos de lixo. As pessoas que passam pela APA de carro principalmente, parecem ter o péssimo hábito de achar que estrada é lixeira e não se intimidam de jogar tudo o que é tipo de sujeira. Encontramos desde um sofá velho até galões com uma substância branca que não sei dizer do que se tratava, além de latas de cerveja, animais mortos em sacas de sarrapilheira, etc. Isto porque estamos falando de uma APA, imaginem então, o que acontece em locais que não são protegidos por lei?

O lixo é um dos fatores que contribuem bastante como combustível para o próximo problema da APA do Curiaú: as queimadas! Nos meses que vão de agosto a dezembro, período em que ocorre o verão intenso aqui no Amapá, é comum passarmos na estrada e observarmos no horizonte algumas cortinas de fumaça. Às vezes nem é preciso observar no horizonte, basta olhar no acostamento da rodovia: o fogo fica há alguns metros dos veículos que por lá trafegam. Observa-se algumas vezes a iniciativa frustrada de alguns voluntários a apagar os incêndios nas mediações de sua casa. Grande parte desses incêndios é proposital, com a intenção de limpar os campos sujos de cerrado para produção de roçados.



Figura III: Lixo jogado ao longo da Rodovia AP-70
Figura IV: Moradores tentando combater o fogo que avança sobre o cerrado. Fotos: Rayssa Barros


A expansão agrícola dentro do Curiaú é algo forte e também faz parte dos aspectos tradicionais das comunidades que lá residem. Contudo, isto causa um sério dano á natureza, pois as áreas de mata fechada estão gradativamente se tornando menores e inóspitas. As expansões agrícolas somadas ao alto índice de caça de subsistência contribuem de forma conjunta para o empobrecimento de fauna na região, em especial aos mamíferos que são animais extremamente sensíveis a esses tipos de alterações. Um renomado cientista chamado Kent H. Redford em seu artigo “A Floresta Vazia” afirma que a destruição de árvores frutíferas acarreta diretamente no empobrecimento da fauna, pois na escassez alimentar, os animais tendem a migrar para outros lugares tornando-se muitas vezes vulneráveis a caça e por fim desaparecendo do local de origem.

Esses são apenas alguns pontos observados em minhas visitas á APA do Curiaú, que aqui estou argumentando ao que vai contra a legislação brasileira quando instituiu a categoria APA. Nas entrevistas que fiz, notei que quase sempre os entrevistados tinham algum grau de parentesco, e que a maioria deles possuem famílias com mais de dois filhos, o que somando tudo provavelmente resultará numa população considerável que irá aumentar ainda mais o caos e a degradação ambiental dentro desta área, partindo da tendência de tudo continuar na mesma daqui há alguns anos. Você deve estar se perguntando: como assim? Bem, se as autoridades locais continuarem a não fazer um acompanhamento rigoroso das atividades que ocorrem dentro do Curiaú, bem como o crescimento populacional, daqui há alguns anos será totalmente inútil chamar o local de Área de Proteção Ambiental, pois simplesmente não haverá mais o que proteger. Pensem comigo: as crianças que hoje lá vivem irão crescer, constituir família, construir novas casas, fazer novos roçados, praticar a caça de subsistência (se sobrar alguma fauna pra isso) e tudo mais que seja necessário para suprir suas necessidades. Em breve o inevitável acontecerá: O Curiaú vai virar uma zona urbana, como já aconteceu com as comunidades próximas á cidade e irá se deteriorar rapidamente.

E é aqui que entra o meu questionamento: para que servem as APAs? Para retardarem o processo de degradação ambiental?
Tenho certeza que os idealizadores da criação de uma APA não a criaram com estes pensamentos, mas sim acreditando que a lei seria aplicada de forma mais rigorosa e levada a sério pelas pessoas. Por isso, vale ressaltar aqui que medidas absolutamente imediatas devem ser tomadas pelos órgãos gestores destas UC´s. Elaboro este pensamento com base na realidade que venho vivendo ao longo do meu trabalho de pesquisa, mas quantas APAs ao longo do país não passam pela mesma situação ou até piores? Quando é que o governo brasileiro vai se dar conta de que precisam investir mais em proteção, fiscalização, vigilância e sensibilização ambiental?

Claro que nada neste mundo se resolve da noite para o dia, mas é preciso que alguém dê o pontapé inicial para que providências cabíveis sejam tomadas e façam com que as APAs não sejam mera perda de tempo. Que tal começar por você caro leitor? Intensifique sua massa crítica, questione as coisas, não se acomode diante ao caos humano da psicoadaptação (segundo Augusto Cury é a adaptação conformista da mente a eventos repetitivos e a perda da capacidade de se sensibilizar com os problemas sociais).

Psicoadaptação: Este fenômeno também observei na APA do Curiaú. Percebo que os moradores sabem muito bem dos problemas que lá existem, mas pouco se interessam em procurar respostas para resolvê-los. Isso é muito negativo para eles mesmos e mais ainda para a natureza onde vivem, pois infelizmente a conservação da flora e fauna do Curiaú dependem muito mais deles do que das autoridades locais. Lembrando aqui que não estou defendendo ninguém, pois a SEMA deveria incentivar as ações comunitárias no âmbito conservacionista. O trabalho em conjunto sempre fortalecerá qualquer atividade que seja feita com dedicação!

Abraço aos leitores.

Atenciosamente,


Rayssa Amaral Barros
Guarda-parque (sem emprego) e estudante de Biologia da UNIFAP (formanda...hehe!)

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